Kim Kataguiri (no protesto do dia 15): ele anuncia a “Marcha a Brasília”
Rogério Chequer (no dia 15 passado): o próximo passo é a “Pauta dos 50″
O Movimento Brasil Livre anunciou neste domingo que dará início, no próximo dia 17, a uma “Marcha a Brasília”. A turma sairá da Praça Panamericana, em São Paulo. Segundo Kim Kataguiri, 19 anos, um dos coordenadores do MBL, o objetivo é chegar à capital federal no dia 17 de maio e lá promover uma grande manifestação.
O “Vem Pra Rua” também vai para o Planalto. Rogério Chequer, um dos coordenadores, diz que representantes de 50 movimentos que se opõem, vamos dizer, ao “statu quo” apresentarão a pauta das ruas ao Congresso Nacional nesta quarta, dia 15.
Tenho insistido neste aspecto, como sabem: uma das novidades, desta feita, é haver um “depois”. Tão logo se desocupam as ruas, há pessoas planejando o momento seguinte. E uma das boas notícias é que elas não se orientam segundo a lógica da oposição formal. Esse não formalismo, no entanto, não esbarra em práticas ilegais e violentas, como é o corriqueiro entre as esquerdas.
Neste domingo, note-se, a oposição também foi alvo de críticas na Paulista. Kataguiri disse que ela não pode continuar com uma “postura frouxa”. Renan Santos, também do MBL, cobrou uma presença maior do senador Aécio Neves (PSDB-MG) no debate e disse que ele “sumiu”. Os manifestantes exortaram ainda os senadores tucanos Aloysio Nunes e José Serra, ambos de São Paulo, e os presidentes da Câmara e do Senado, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e Renan Calheiros (PMDB-AL), a encaminhar o pedido de impeachment de Dilma.
Eis mais um sinal da, como posso chamar?, salubridade desses movimentos de protesto. Sua pauta tem mesmo de ser mais ampla e mais radical do que a das oposições formais. Eles têm de ser para o oposicionismo, em alguma medida, o que os ditos “movimentos sociais” são para o petismo, mas com uma diferença: os grupos militantes são meras franjas do PT ou de partidecos de esquerda; dependem, para existir, do suporte dessas legendas e, com frequência, do estado. Já as forças que se organizam contra o lulo-petismo são, de fato, independentes. Não têm nenhum vínculo formal e doutrinário com os tucanos.
“Ah, então o MBL ou o Vem Pra Rua não reconhecem o papel institucional da oposição?” Tolice! Se não reconhecessem, não estariam fazendo cobranças. O que eles estão dizendo é que fatias crescentes do Brasil têm um nível de urgência que ainda não foi percebido pela oposição institucional.
Tratei desse assunto na minha coluna de sexta na Folha, que segue abaixo, reproduzida na íntegra. Notem ali que afirmo que o PSDB também terá de se reinventar se não quiser ser tragado junto com o PT.
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Trabalhadores sem partido, uni-vos!
Um amigo, Felipe Nogueira, me sugeriu o tema desta coluna. Há uma nova consciência se formando no país. Ela não sabe direito quais são os pressupostos do PT. Também não tem muito claros os fundamentos do PSDB. Uma coisa é certa: essa turma não é mais refém dessa dualidade que, a seu modo, só interessava aos litigantes, como em “Os Duelistas”, o excelente filme de estreia de Ridley Scott. As personagens de Harvey Keytel e Keith Carradine passam a vida tentando matar um ao outro. Até o dia em que o desequilíbrio acontece, e um deles morre.
Bem, e aí? Aí o filme acaba em melancolia. Não estou dando spoiler nenhum. Por óbvio, haveria a hora em que um dos dois cometeria um erro. Aconteceu. E o outro pôde experimentar, então, a verdadeira solidão.
Há um novo lugar na política brasileira que, até agora, não foi ocupado por ninguém. Os milhares, ou milhões, que saíram às ruas no dia 15 de março são órfãos de partido, são órfãos de representação, são órfãos de porta-vozes. A maioria conservadora do país –que excita o tédio e a fúria pretensamente elegantes e inequivocamente persecutórios da revista “Piauí”– não encontra seus representantes na política institucional.
É crescente o número de pessoas dessa maioria a perceber que os tucanos, por exemplo, continuam, com as exceções de praxe, com medo “do povo que há” porque demasiadamente preocupados “com o povo a haver”. Peessedebistas, em suma, ainda privilegiam em seu discurso uma população, digamos, escoimada de suas supostas impurezas.
Vários movimentos que se opõem ao atual estado de coisas convocaram um protesto para este domingo, dia 12. Talvez reúna menos gente do que o do dia 15 de março. Superar aquele marco não é relevante. Nenhuma sociedade, a menos que viva uma convulsão pré-revolucionária, se mantém permanentemente na rua contra o “statu quo”.
O sintoma que interessa ao futuro é outro. Mesmo liderando uma máquina ainda poderosa e organizada, CUT e PT protagonizaram um vexame na terça passada. Nem os companheiros compareceram ao enterro da última quimera de Luiz Inácio Lula da Silva. Quem apostaria, até outro dia, que a prontidão de mulheres e homens comuns, sem o abrigo de bandeiras, superaria a da militância organizada? Mas hoje é assim.
Os procuradores da velha ordem ainda insistem em ouvir no alarido dessa rua sem pedigree o sotaque daquela dualidade que interessava a oportunistas e picaretas. Acabou. Não há mais. Quando a esquerda financeira da revista chique para botocudo faz pouco caso da direita-sem-banco que produz, bate panelas e se nega a financiar o PT, a gente tem de concluir que algo de efetivamente novo está em curso no país. Para a tristeza dos dinossauros de punhos de renda.
E essa novidade não depende nem da adesão nem da bênção daqueles que se queriam os donatários da legitimidade das causas. A tão sonhada, pelas esquerdas, “democratização” dos meios de comunicação se realiza na prática e leva à praça a voz dos que trabalham e arrecadam impostos. E isso parece insuportável aos ouvidos dos distributivistas do fruto do trabalho alheio –desde que o spread bancário financie a boa consciência, é claro!
Tucanos versus petistas? Que coisa velha, santo Deus! Também o PSDB terá de se reinventar, e haverá de ser à direita, se não quiser ser banido, junto com o PT, do universo de referências desses que ora despertam.
Texto publicado originalmente às 19h53 deste domingo
Por Reinaldo Azevedo
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