As alianças partidárias asseguram à presidente-candidata os quatro palanques no Estado. Mas sua presença na campanha nas ruas e na TV é improvável
Daniel Haidar, do Rio de Janeiro
CAMPO MINADO – Dilma Rousseff: ela tem todos os palanques, mas não sobe em nenhum (Evaristo SA/AFP/VEJA)
No papel, a presidente-candidata Dilma Rousseff tem palanque nas quatro candidaturas do Estado do Rio de Janeiro neste ano. O arranjo político, teoricamente, a colocaria em vantagem, com aparições frequentes na campanha do terceiro maior colégio eleitoral do país. Mas não foi o que aconteceu até agora e nem deverá ocorrer tão cedo. Os quatro concorrentes ao Palácio Guanabara – Lindbergh Farias (PT), Luiz Fernando Pezão (PMDB), Anthony Garotinho (PR) e Marcelo Crivella (PRB) – não se esforçam pela presidente, que por enquanto não foi citada nos jingles nem em material impresso de campanha.
O Estado fluminense virou um problema para a campanha de Dilma no Sudeste. Na última sondagem feita pelo Ibope, entre os dias 26 e 28 de junho, Dilma tinha 35% das intenções de voto no Rio de Janeiro – à frente do principal adversário, Aécio Neves (PSDB), que marcava 15%, mas em porcentual muito abaixo do esperado pelo PT, que apostava no trunfo de ter quatro candidatos de partidos governistas.
A falta de empenho ds candidatos do PT, PR e PRB ao Palácio Guanabara ganhou mais força porque a presidente-candidata só foi ao Rio neste ano para atos com o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), cujo partido dá apoio majoritário a Aécio. O relacionamento com os outros três candidatos só piorou com a vinda de Dilma ao Rio no dia 24 de julho, para começar a campanha no Estado em jantar com prefeitos organizado por Pezão. No dia seguinte, Rui Falcão, coordenador-geral da campanha de Dilma e presidente nacional do PT, teve de visitar Garotinho, Crivella e Lindbergh para apaziguar os ânimos e prometeu datas de atos conjuntos com cada candidato – até agora indefinidas, embora Garotinho tenha prometido levar Dilma com ele a um restaurante popular em Bangu na próxima sexta-feira.
Pezão é acusado por petistas de fazer "corpo mole" para a campanha da presidente. Afinal, nunca reagiu enfaticamente ao movimento "Aezão", organizado pelo presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani. Tanto Dilma quanto Aécio aparecem no material publicitário de candidatos da coligação de 17 partidos, mas o PMDB promete empenho apenas para o tucano. Curiosamente, Pezão ainda não se mostrou um bom cabo eleitoral para Aécio, já que só 21% dos seus eleitores dizem votar no tucano, enquanto 49% afirmam ue pretendem votar em Dilma, de acordo com cruzamento feito pelo Ibope para o site de VEJA. "Quanto mais nitidez a campanha tiver, a troca de votos vai ser maior. Do PMDB, 90% do material impresso de campanha tem a imagem de Aécio", diz Picciani. Já Pezão nega a falta de empenho: "Não se trata de traição. Eu vou apoiar a presidente Dilma até onde o PT quiser e deixar. Tenho o maior carinho e gratidão por ela", afirmou na última sexta-feira, durante sabatina promovida pela UOL, Folha de S. Paulo e SBT. "Meu partido é o Rio de Janeiro, e a presidente Dilma nos ajudou muito. Tudo que for bom para o Rio de Janeiro eu vou apoiar e me relacionar."
Até no entorno petista o esforço por Dilma é claudicante. Lindbergh nem planeja atos com a presidente. Aposta apenas na presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em eventos e na propaganda televisiva. "Dilma deve aparecer apenas em inserções", diz um estrategista da campanha de Lindbergh. Mesmo com a distância entre os dois, o candidato petista é quem mais transfere votos para Dilma. Isso porque 54% dos eleitores de Lindbergh dizem votar na presidente, segundo o Ibope.
Os interesses se afastaram ainda mais quando o candidato petista, para ganhar tempo de televisão, fechou aliança com o PSB, em chapa com o deputado federal Romário (PSB) para o Senado, o que abriu palanque para Eduardo Campos na base petista regional. O relacionamento entre Dilma e Lindbergh nunca foi dos melhores – ele faz parte da ala do partido que defendeu o "volta, Lula" antes da campanha.
Anthony Garotinho já fez chantagem e ameaçou debandar para a campanha de Campos. Fez circular a versão de que liberaria aliados da obrigação de fazer campanha pela presidente. O ex-governador do Rio já tinha falado em abandonar o barco de Dilma em junho, mas mudou de ideia depois que os ministros Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) e Aloizio Mercadante (Casa Civil) atuaram para promover a adesão do recém-criado Pros na sua coligação, o que ampliou seu tempo na campanha eleitoral na televisão.
Dos quatro, Marcelo Crivella é quem mais precisa do apoio da presidente porque sua candidatura não tem partidos aliados e possui apenas 1 minuto e 9 segundos de propaganda na televisão. Segundo o Ibope, ele é o pior cabo eleitoral de Dilma no Estado. Dos eleitores de Crivella, apenas 43% dizem votar em Dilma. O bispo é quem mais transfere votos para Aécio Neves, opção de 22% dos entrevistados. Apesar da promessa de Rui Falcão, não há expectativa de atos de campanha com a presidente no Rio. "A coordenação nacional do PT disse que ia montar um palanque e quem quisesse iria até ela", afirmou o pastor Marcos Pereira, presidente nacional do PRB.
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