A eleição colombiana será decidida em segundo turno, no dia 15 de junho, entre o candidato do Centro Democrático, Óscar Iván Zuluaga, que obteve 29,26% dos votos, e o atual presidente, Juan Manual Santos, que chegou em segundo, com 25,68%. A conservadora Marta Lúcia Ramírez ficou em terceiro, com 15,53%, e a esquerdista Clara Lópes, em quarto, com 15,23%. A chance de Santos ser derrotado é enorme — tomara que aconteça! Quem olhasse para a Colômbia de quatro anos atrás jamais apostaria no cenário que aí está. Explico.
Álvaro Uribe foi eleito pela primeira vez em 2002 e se reelegeu em 2006. É o homem que tirou a Colômbia do caos. Foi ele quem organizou o embate contra as Farc — que nunca foi tão pequena, embora reúna ainda alguns milhares: estima-se que o contingente esteja entre 6 mil e 8 mil cabeças. Seus principais líderes foram mortos pelo Exército colombiano, e só por isso o país conseguiu respirar, embora ainda tenha pedaços da selva sob o controle dos narcoterroristas e narcotraficantes. Um país que estava à beira da desconstituição passará a ter, segundo o FMI, o segundo PIB nominal da América do Sul no ano que vem, superando a Argentina, e o terceiro da América Latina, atrás apenas do Brasil e do México.
Muito bem! Quem pôs a Colômbia nessa rota? O nome dele é Álvaro Uribe, o presidente que quebrou a espinha das Farc e que tentou uma manobra para ser candidato a reeleição uma segunda vez, em 2010, mas a Corte Constitucional do país o impediu. Ele lançou, então, seu ministro da Defesa como o nome para sucedê-lo, uma eleição que era uma barbada. E esse ministro era justamente Juan Manuel Santos, o atual presidente, que faz uma gestão tecnicamente virtuosa. A Colômbia legal é um país razoavelmente arrumado.
Acontece que Santos, oriundo de uma das mais tradicionais e ricas famílias do país, decidiu ensaiar voo próprio e se desligar de Uribe. E esse pode ter sido seu erro. Aquele que, a serviço do uribismo, conduziu com mão de ferro a luta contra as Farc decidiu iniciar negociações com os narcoterroristas. Em linhas gerais, seu plano é levar as Farc para a legalidade. Os bandidos deporiam armas e passariam a disputar eleições, depois de uma ampla anistia. Na sua configuração atual, as Farc existem desde 1964 — é o mais antigo grupo dessa natureza em atividade no continente. Segundo a ONU, perto de 600 mil pessoas já morreram em decorrência de suas ações e mais de três milhões ficaram desabrigadas porque tiveram de deixar suas propriedades e povoados. Está em curso, diga-se, um plano de assistência para essas famílias — uma espécie de Bolsa Família para as vítimas do terrorismo.
As conversações com as Farc acontecem em Cuba. Setores crescentes da sociedade colombiana se opõem à proposta do presidente — incluindo Francisco Santos, seu primo, que foi vice de Uribe por oito anos e o acusa de ser aliado do terror, o que, vênia máxima, faz sentido. Os que votaram em Santos em 2010 não o fizeram para que ele fizesse um acordo de paz com a canalha, sob a mediação cubana. Ao contrário: votaram no ministro da Defesa que desferiu duros golpes os facínoras. Ele resolveu dar um passa-moleque nesse eleitorado e em Uribe, que não teve dúvida: fez um outro candidato.
Com o apoio do ex-presidente, Óscar Iván Zuluaga passa a ser o favorito. Santos, que faz um bom governo, pode pagar um preço alto pela traição política.
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