O Poder Público em qualquer país do mundo, por mais avançado que seja, está sempre um pouco aquém das aspirações da população. Isso não é um mal em si. Melhor que seja assim; melhor o inconformismo do que a desesperança. No Brasil, no entanto, o estado oferece serviços tão precários que se pode falar mesmo num divórcio entre o povo e o poder público. Vamos ver.
Está sendo montado em São Paulo, sob a coordenação do governo federal, o chamado QG da Copa em São Paulo — a exemplo do que vai acontecer nas outras capitais que receberão o Mundial. O chamado Centro Integrado de Comando e Controle Regional, informa a Folha, vai reunir várias instâncias dasegurança pública: polícias Civil, Militar, Técnico-Científica e Federal, funcionários da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), do Corpo de Bombeiros, do Metrô, da CPTM, da Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo), da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e das Forças Armadas. Todos trabalharão em conjunto, numa sala de operações com 60 terminais de monitoramento. Um delegado da PF estará no comando. O governo federal investiu R$ 66 milhões na iniciativa, por meio da Sesge (Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos), do Ministério da Justiça. Haverá ainda seis unidades móveis.
Em si, é uma boa notícia. Mas vejam aí um caso em que o “mais” pode ser recebido pela população como o “menos”. Por que só agora, na Copa do Mundo, tentam, então, oferecer uma segurança ou um monitoramento “Padrão Fifa”? Atenção! São Paulo, saibam, é a capital menos violenta do país; a que registra o menor número de homicídios por 100 mil habitantes. Imaginem como é a situação nas demais, algumas delas com o triplo ou quádruplo de mortos. Então um país que registra mais de 50 mil assassinatos por ano — nem a guerra civil da Síria mata tanto — não faz por merecer esse monitoramento de ponta desde sempre?
Sim, essa estrutura vai permanecer depois da Copa e passará a ser gerenciada, em São Paulo, pela Secretaria de Segurança Pública, mas com uma estrutura reduzida — já aí sem a participação do governo federal, por exemplo. O dia a dia no Brasil tem sido de tal sorte insuportável, especialmente nas grandes cidades, que um esquema especial de monitoramento acaba gerando mais críticas do que contentamento. Porque se sabe, e sabemos, que, tão logo a turistada vá embora, a coisa tende a voltar à normalidade da anormalidade: ou é razoável que um país perca 100 mil pessoas por ano, metade assassinada e a outra metade emacidentes de automóvel? É a barbárie brasileira sem retoques.
É bom que os governos se preparem. Depois da Copa do Mundo, é possível que as ruas se tornem ainda mais exigentes. E não há mal nenhum nisso. Desde que as reivindicações sejam feitas dentro da lei e da ordem, trata-se da melhor parte da democracia.
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