Se a última pesquisa do Ibope revelou alguma coisa foi que o Brasil da sucessão presidencial de 2014 continua sendo aquilo que Nelson Rodrigues chamava de “elefante geográfico”. Falta-lhe um rajá, isto é, um líder que o monte. A boa notícia para Dilma é que ela conseguiu segurar nas orelhas do bicho. Mas sua estabilidade ainda é frágil.
Beneficiada pelo medo que a propaganda de João Santana instilou no pedaço do eleitorado que ainda se deixa assustar pelos “fantasmas do passado”, Dilma subiu de 37% para 40%. Mas seus antagonistas também subiram. Em um mês, Aécio Neves saltou de 14% para 20%. E Eduardo Campos pulou de 6% para 11%. A vantagem da presidente sobre a soma de seus rivais é de escassos quatro pontos. Para quem sonha em prevalecer no primeiro turno, é pouco.
Apesar de toda a esperteza marqueteira da propaganda petista, o Ibope ficou muito parecido com o Datafolha do início de maio. Nessa sondagem, feita antes do comercial do pânico, Dilma tinha 37%, Aécio colecionava os mesmos 20% e Campos amealhava idênticos 11%. Uma evidência de que parte dos eleitores não teme o risco de o Brasil “voltar atrás”. Tem medo de o país não ir para a frente.
No momento, o maior problema de Dilma chama-se taxa de rejeição: 33% dos eleitores informaram que não votariam nela de jeito nenhum. É o mesmo percentual que o Ibope havia anotado no mês passado. Quer dizer: para atenuar a aversão que desperta em um terço do eleitorado, Dilma precisa vender sonhos novos, não medo. Para desassossego do petismo, deu-se coisa diferente com Aécio e Campos.
Segundo o Ibope, o índice de rejeição do presidenciável do PSDB caiu em um mês de 25% para 20%. A aversão ao candidato do PSB despencou de 21% para 13%. Aécio e Campos também desfrutaram das janelas abertas no horário nobre da tevê pelas respectivas propagandas partidárias. Aparentemente, uma parte da plateia gostou tanto do que viu que deixou de torcer o nariz para o que não conhecia. Considerando-se que ambos são bem menos manjados do que Dilma, pode-se intuir que têm potencial para crescer mais.
O segundo maior problema de Dilma é a avaliação do governo dela. Cresceu o percentual dos que consideram a atual administração federal ruim ou péssima: 33%. É coisa jamais vista. Na outra ponta, somam 35% os que avaliam o governo como ótimo ou bom. Mais um pouco e as curvas se cruzam.
A combinação da taxa de rejeição com a avaliação precária de sua presidência, faz com que Dilma frequente os cenários de segundo turno com um tamanho muito parecido com o do primeiro round. Numa disputa direta com Aécio, ela somaria, hoje, 43% dos votos. Num embate contra Campos, teria 42%. Ou seja: a presidente acrescentaria à votação do primeiro turno exíguos dois ou três pontos. É pouquíssimo.
O grande diferencial de Dilma em relação aos seus dois principais contendores é o tempo de propaganda no rádio e na tevê. Mantidas as alianças partidárias costuradas até aqui, João Santana deve dispor de pouco mais de 15 minutos para demonstrar ao eleitorado mudancista que Dilma pode ser a mudança de si mesma. Terá de vender bem mais do que o medo. Sobra-lhe talento. Resta saber se terá matéria prima para ir além da mistificação.
A vitrine eletrônica de Aécio é bem menor. Coisa de cinco minutos e uns quebrados. A de Campos é infinitamente menor. Pouco mais de dois minutos. Nessa trincheira, a batalha favorece quem está no governo. No Brasil, o tempo de propaganda dos partidos é sinônimo de verbas, favores e cargos —mercadorias que não estão disponíveis nas gôndolas da oposição.
A conjuntura não ajuda Dilma: inflação em alta, PIB em baixa, Petrobras no liquidificador, gastos da Copa sob questionamento… Mas não se deve desprezar os “fantasmas do passado''. Ficou entendido, desde a eleição do embuste Fernando Collor, que, com boa propaganda, o eleitor pode acreditar até em ovo sem casca.
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