quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Como as eleições brasileiras viraram de cabeça para baixo




Com a recessão econômica e a não absorção das demandas dos protestos de junho de 2013, apetite brasileiro por mudanças cresceu






A corrida eleitoral no Brasil deu uma virada inesperada no dia 13 de agosto, quando Eduardo Campos, candidato de centro, morreu em um acidente aéreo. Nas intenções de voto, Campos estava atrás da candidata de esquerda, Dilma Rousseff, e também de Aécio Neves, o principal opositor de centro da atual presidente que concorre à reeleição. Contudo, sua morte abriu caminho para a candidata à vice-presidente de sua chapa, Marina Silva, concorrer ao cargo máximo do Executivo, e não demorou para que imediatamente ela ganhasse ampla vantagem em relação a Neves e praticamente emparelhasse com Dilma nas intenções de voto. Pesquisas mostram que pode até vencer a adversária no segundo turno. Mas o que aconteceu para o cenário mudar radicalmente e Marina tomar a frente da disputa com Dilma?

Em junho de 2013, quando mais de um milhão de pessoas tomaram as ruas em protestos contra a má qualidade dos serviços públicos e a corrupção, ficou evidente que as eleições não seriam fáceis para Dilma Rousseff e seu Partido dos Trabalhadores (PT). O índice de aprovação da presidente, que até então estava na casa dos 80%, caiu da noite para o dia. De repente, dois terços dos brasileiros reivindicavam mudanças – maior demonstração de descontentamento popular desde que Luiz Inácio Lula da Silva, líder da classe trabalhadora, predecessor e mentor de Dilma, venceu o reformista (porém elitista) Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), em 2002.
Na visão de muitos brasileiros, Marina Silva é a candidata que melhor encarna a transformação. Ativista ambiental de origem humilde, foi ministra do Meio Ambiente no governo Lula de 2003 a 2008, quando renunciou ao cargo por discordar de medidas antiambientalistas levadas adiante pelo gabinete presidencial. Dois anos depois, as convicções e promessas de quebrar o “duopólio” do PT-PSDB levaram 20 milhões de pessoas a votarem nela nas eleições presidenciais de 2010. Ficou em terceiro lugar nas urnas, mesmo fazendo parte de um partido menor e de concorrer ao pleito em um momento em que os brasileiros desejavam continuidade (e de fato votaram massivamente na sucessora de Lula, Dilma Rousseff). Marina Silva tornou-se um rosto familiar, mais conhecida que Campos ou Neves. Após os protestos de junho do ano passado, ficou claro que ela seria a maior ameaça à reeleição de Dilma, com o apoio de um a cada quatro eleitores.
O PT respirou aliviado quando Marina Silva fracassou na tentativa de coletar assinaturas suficientes para registrar seu partido antes do prazo de outubro do ano passado (ela alega embuste, outros acreditam que iniciou o processo tarde demais). Foi aí que Silva decidiu unir forças com Campos. Em um sistema em que a vice-presidência tem pouca importância, Campos falhou em construir uma base de apoio partidária à candidata recém-incorporada ao partido. Mas a popularidade pessoal de Marina Silva nunca esmoreceu. Desde então, o tom conciliador assumido nas performances televisivas, bem como o discurso mais sensato e as propostas políticas também mais conciliadoras convenceram os eleitores de que ela não é tão radical como a acusam seus adversários. Enquanto isso, com a recessão econômica e a não absorção das demandas de junho de 2013 pelos representantes políticos, o apetite brasileiro por mudanças cresceu. Em 2010, os eleitores não estavam prontos para a “terceira via” de Marina Silva. Mas talvez agora estejam.

Nenhum comentário:

Postar um comentário