domingo, 15 de junho de 2014

As vinhas da ira.


The Grapes of Wrath (As Vinhas da Ira) foi um livro publicado pelo escritor norte-americano John Steinbeck, no ano de 1939, recebendo o escritor o Prêmio Nobel de Literatura no ano de 1962.
Steinbeck conta a história de miséria de uma família rural em Oklahoma, que tem de abandonar as terras que cultiva e migrar para a Califórnia num caminhão. Pelo caminho, cruzam com miseráveis iguais, retratados de forma magistral por Steinbeck.
O escritor quase não publica o livro pois seu editor queria que Steinbeck aliviasse o final, por considerá-lo obsceno demais para os padrões moralistas norte-americanos, retratando uma mulher que acabara de perder seu filho, que caíra doente e sem atendimento médico, e que morrera após o parto, a qual chegando como retirante numa casa velha e semiabandonada, ocupada por um pai muito doente e um menino, seu filho, que o acompanha na migrada, oferece o seu seio cheio de leite para que o homem doente se alimente...
John Ford, diretor de cinema, retratou a desgraça no filme homônimo, tendo por protagonista Henry Fonda e, à causa da cena, não poucas foram as iradíssimas manifestações de repúdio, sobretudo da crítica, de cunho moralista, denunciando aquela obscenidade, que agredia a maternidade e a mulher, numa cena qual, sinceramente, o lado sexual do ato em si é a última coisa que lhe vem à mente.
A esta altura me perguntariam o que isso tem a ver com o quanto vem acontecendo no país agora.
Explico: O maniqueísmo petista, sórdido, sempre, sobretudo quando vem de Lula, acusou, logo após a presidente Dilma ter sido xingada no Itaquerão, ela, Blatter e companhia, na presença da filha, adulta, de ter sido a elite rica paulistana, a responsável pelo ato engendrado contra a “companheira”, pois que se fosse o “povo pobre”, isso não teria acontecido.
Fato é que os xingamentos continuam em alguns estádios do Brasil, com Dilma ausente, sendo certo que agora alguns setores, sobretudo da mídia, e formadores de opinião, acusam de machistas os manifestantes, ao assim se insurgirem contra uma mulher, na presença da filha, diante de seus amigos e convidados.
Considero teses insustentáveis essas para explicar o óbvio. Ocorre que, por primeiro, o Planalto tinha prévia informação que Dilma e companhia seriam vaiados, tanto que optou ela por não discursar, recomendando-se ao Blatter que fizesse o mesmo.
Por segundo, tivesse Lula comparecido ao estádio de seu declarado time de coração, todo ele superfaturado e construído com dinheiro público, seria de igual mandado ir-se dar naquele lugar, afora receber uma vaia desmoralizante, e tão forte como nunca se deu antes na história deste país. E Lula sabia disso, tanto que não foi ao evento, deixando covardemente Dilma "fritar" sozinha no caldeirão de Itaquera...
Assim o sendo, o ato foi dirigido contra a classe política encarnada na presidente da República, como de se esperar, aliás, nada tendo a ver com sexo, com machismos, e que tais, muito embora discutível a grosseria contra ela voltada num estádio de futebol na abertura da Copa do Mundo.
Pudesse assim fazer, não fosse a obrigatoriedade de sua presença no evento que consumiu, via corrupção, bilhões de reais de dinheiro público, Dilma não teria ido, como não foi o “companheiro” Lula, que de bobo não tem nada...
Essa é a verdade.
A dar como exemplo as vinhas da ira popular, recentemente, como consta na matéria, o Tribunal de Contas da União (TCU), levantou que: 77% dos hospitais públicos federais mantém leitos desativados porque não há equipamentos mínimos, tal como monitores e ventiladores pulmonares; que em 45% dos hospitais públicos federais, os equipamentos ficam sem uso porque faltam contratos de manutenção; que 48% sofrem com deficiência de instrumentos e móveis básicos para prestação dos serviços; que em 80% dos hospitais fiscalizados, faltam médicos e enfermeiros e quase a metade desses hospitais tem leitos fechados, exatamente por falta de profissionais.
E essa é uma realidade que não muda, não porque falte dinheiro, como visto na construção corrompida dos estádios, mas porque falta vontade política, gestão séria e competente e sobra corrupção no setor do Ministério e de Secretarias da Saúde, estaduais e municipais, as quais recebem sempre as mais polpudas verbas dos orçamentos públicos, sempre desviados para as campanhas políticas e os políticos, além de correligionários e os gestores de saúde (diretorias etc e por exemplo), indicadas pelos políticos, para os cargos de direção, com o expresso e focado “dever” de roubar “muito, mais e melhor”.
Machista é deixar uma parturiente dar a luz na sala de espera, por falta de leito, sem assistência, com os presentes vendo sua vagina arregaçada pelo trânsito do feto na frente de todo mundo, expondo-os, mãe e filho, a um vexame, de uma forma aviltante e revoltante. Tanto é que o bebê chegou, tão logo dela saiu, a cair e bater a cabeça no chão, sendo recolhido dali por um médico de passagem.
E essa mãe, com seu filho, não terá voz, dia seguinte, para fazer pronunciamentos públicos de que nada a abalará, pois que já teve de passar, sem querer, na vida, por tamanha humilhação e violência física e moral.
Perto disso, convenhamos, uns “vai tomar no cu” não é nada, até porque não vai mudar nada também...

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