Em nenhum país do mundo a camisa de força verbal pode ser tão facilmente analisada como no Brasil. Quando o Olavo de Carvalho disse que aqui o sujeito roubava, pilhava, desviava, corrompia mas, ao ser minimamente sugerido que o estava fazendo, levantava o dedo, falava grosso, forte, aos berros: "Está me acusando? Mentiroso! Caluniador!" eu até que duvidei que fosse tão caricato, mas o é.
Esse é o país em que desvia-se mais verbas do que podemos imaginar, que corrompe, que burla as regras para terminar estádios sem alvará de funcionamento, que afilia-se às FARC e que permite quase sessenta mil homicídios por ano por pura e simplesmente lavar as mãos para as causas de toda e qualquer formação violenta. Ignora a tudo e todos e permite que sejamos um dos povos mais sanguinolentos do mundo e, ao mesmo tempo, que ocupemos - sempre - os últimos lugares nos testes internacionais de qualquer exigência escolar.
Tudo isso pode. Tudo isso são obras da democracia e do processo de civilização, que ainda estamos no início por sermos uma nação jovem. Agora, quando o povo se levanta e ofende a Presidente da república, um exército de jornalistas e intelectuais se colocam em linha, prontos para defender a "boa moral e o respeito" para com nossas instituições. "Xingar assim não pode, ofende, é falta de educação".
Sabem o que é falta de educação? Tiro de fuzil na cabeça do seu filho, que estava indo para a escola. Falta de educação é amputarem braço errado de criança que foi ao hospital, menino que sofre parada cardíaca dentro do hospital enquanto o médico fala ao celular, sequestro feito por policiais, tráfico de drogas dentro das escolas, criança espancando professor; tudo isso é falta de educação. Xingar a Presidente da república, que sequer merece essa letra maiúscula que a presenteio, é legítima defesa, ainda que muito hipo-aplicada.
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