terça-feira, 17 de junho de 2014
O torneio mundial de futebol revelou-se extremamente útil para o Legislativo. Funcionou como uma espécie de teste vocacional. Graças à Copa, o Congresso se deu conta de que tem uma insuspeitada vocação para o nada
Copa tem. O que não tem é Congresso Nacional. O torneio mundial de futebol revelou-se extremamente útil para o Legislativo. Funcionou como uma espécie de teste vocacional. Graças à Copa, o Congresso se deu conta de que tem uma insuspeitada vocação para o nada.
Assumindo toda a sua estéril insignificância, o Congresso resolveu se autofechar. Enquanto durar a Copa, o Congresso será o espaço baldio da República. Já em pleno gozo da sua ausência insubstancial, o Congresso celebra o fato de que ninguém notou o oco do seu ínterim.
Com exceção do massagista da Paolla Oliveira, nenhum trabalhador brasileiro tem um ‘emprego’ melhor do que os deputados e os senadores. O salário é bom: R$ 26,7 mil —noves fora a verba do gabinete, a gasolina, as passagens aéreas, o correio, o telefone, o auxílio moradia, assessores para providenciar a sombra e estafetas para trazer a água fresca.
O horário de trabalho, que já era bom, ficou ótimo. Antes da Copa, o Congresso se reunia de terça à tarde até quinta de manhã. Depois, voltava para suas bases, onde ficava entre sexta e segunda. Com a Copa, atingiu-se o ideal de toda a classe trabalhadora: uma jornada de zero horas sem redução do contracheque.
Ao longo das próximas semanas, o Congresso será apenas a ilusão de que existe. Terminada a Copa, Câmara e Senado vão às férias do meio de ano, que ninguém é de ferro. Na sequência, mergulharão na campanha, que ninguém quer perder uma boquinha dessas.
Um trabalhador desacostumado talvez estranhasse o recebimento do salário sem a contrapartida do derramamento de suor. Porém, no regime em que vivemos, deputados e senadores não se sentem pessoas públicas. O público é que lhes atrapalha a vida privada.
No presidencialismo patrimonial, o Congresso não tem congressistas. Os congressistas é que têm o Congresso. E fazem dele o que bem entendem. Fechando-o, transformam o seu bolso num puxadinho das contas bancárias deles. Há sempre o risco de surgir uma deliciosa tentação autoritária. Mas, enquanto tiver Copa, ninguém vai notar.
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