sábado, 14 de junho de 2014
D’us e o diabo na Terra do Sol.
Lembro-me bem do sol batendo no vidro da camionete de meu pai na recém-inaugurada Rodovia do Sol, depois batizada Rodovia Presidente Castello Branco, encurtando a viagem para a fazenda em Itapetininga, que por vezes demorava, de São Paulo até lá, umas quatro ou cinco horas.
O Brasil mudou muito desde então. Vieram as telecomunicações por satélite (antes, para falar com a fazenda, era preciso agendar com a telefonista um dia antes o horário para completar a ligação), a televisão colorida, a frequência FM, o fax, os computadores domiciliares, os celulares, a internet, e: - o mundo se coligou.
O que os governos não percebem, dos castelos nos quais imersos e introjetados, longe das realidades das casas, das ruas, das cidades, do cidadão e cidadã comuns, é que as percepções interativas das realidades subjacentes cotidianas interferem mais, bem mais, nos critérios e avaliações coletivas destas realidades, que as edições dos jornais, revistas, telejornais, mais das vezes poupadores da notícia, dada assim, quando a dão, à queima-roupa, sem avaliações, sem comentários dignos de nota, quase de forma disfarçada, a não chamar tanto a atenção.
As pessoas comuns, coligadas em rede, não querem mais este modelo de imprensa, porque a julga comprometida, e mais das vezes o é, com governos locais, regionais, nacionais e internacionais, cujos interesses na divulgação ou ocultação deste ou daquele assunto se sobrepõem aos interesses da população na divulgação da notícia. Por vezes acuada, a imprensa, entendida esta no seu sentido geral, sem opção de sonegar a notícia, a traveste e as pessoas acabam por perceber...
Daí, que neste mundo internatizado, para desespero dos governantes e da imprensa (repita-se: - em seu sentido amplo), as pessoas vão buscar outras fontes, mais ou menos confiáveis, que em larga medida superam o poder de informação, digamos, “oficial”, a poder confirmar, ou até ampliar o conteúdo da notícia, buscando mais verdade na informação.
Não que as pessoas se afastem de um “Jornal Nacional”, por exemplo. Até o assistem, mas se desconfia da notícia, isto quando dada, pois que supõe, e de forma acertada, mais das vezes, que a notícia sofreu deformidade pela edição, ou simples supressão.
Alguém conseguiu ver e ouvir, logo após o cantar do Hino Nacional a presidente Dilma sendo mandada, por toda a torcida, ir tomar no pé de mandacaru? Não. Supressão do fato, pura e simplesmente. E este fato é importante, pois que mede, em tempos de eleição, como andam os ânimos em relação à Dilma e seus associados, inclusive Blatter, que acabou de suspender por 90 dias Beckenbauer de suas funções na Fifa, por ter encabeçado uma investigação sobre corrupção na entidade, pela escolha do escaldante e desértico Catar como sede da Copa de 2018, em troca de pesos em ouro...
Não fosse a internet, com as pessoas tomando ciência do fato, Dilma sequer teria vindo a público passar recibo dos xingamentos que recebeu. Como no passado, em tempos militares, o dito passaria pelo não dito, e o visto seria ocultado.
Decorre disto, da conferência posterior, por outros mecanismos de busca da notícia, que traduzem a realidade do evento, o sucesso do Google, o grande inferno no qual se derretem governos e reputações.
Dilma, por exemplo, está na casa perigosa dos 30% das intenções de voto, agora em junho. Não se elege com este índice, pois que por trás dele existe margem superior de rejeição ao seu nome.
Contradição há, pois que as pessoas ainda vão às ruas protestar, muito embora os índices de desemprego no Brasil sejam os menores em toda a história, desde que começou a ser aferido, o que faria supor que a economia vai muito bem no sentido ortodoxo, segundo valores “mantegosos”.
Porém, é perceptível que as realidades, as contradições, as fragilidades sociais se depararam e foram confrontadas com o fato, dadas as edificações dos miliardários estádios de futebol, que o país tem dinheiro, muito dinheiro, mas que não é usado em prol do povo, e sim em prol dos políticos, que o roubam de forma cínica e continuada.
Dilma diz que investiu R$ 1,3 trilhão na saúde e na educação, vinte vezes mais que nos estádios e obras de mobilidade urbana, muitas das quais não saíram do papel, dada a roubalheira que tomou conta da classe política corrupta espasmódica do Brasil.
É de se preocupar mais ainda, porque se percebe que essa dinheirama toda não refletiu melhorias nas condições das escolas, das universidades, hospitais, pronto socorros e ambulatórios, sendo lícito perguntar onde está o dinheiro, nestes tempos de Petrobrás sede de organização para delinquir encabeçada, de certo, por alguém que tem dedos de menos e esperteza demais.
E que ninguém se surpreenda se um Paulo Roberto da vida abra a pastinha e jogue sobre a mesa da CPI volumoso dossiê dando conta que o buraco é mais encima, tanto para não ir sozinho, como bode expiatório, para a cadeia, visto que se ele, um diretor, um terceiro escalão, roubou da estatal U$ 23 milhões, imagine-se quanto roubou quem acima dele, associado a ele, subordinando a ele, neste governo que vai para doze anos, pondo assim a mão gorda, com dedos ou sem dedos, nos cofres, causando rombo bilionário na depauperada Petrobrás...
Assim, é deste descompasso moral, antes tudo, entre o discurso oficial, que perceptivelmente pretende enganar e iludir, e a busca em rede pela confirmação das percepções das realidades tangíveis e intangíveis, que estão colocando fogo nesta terra de D’us e do diabo, com todos nós sob o sol da seca caatinga, sem muita eira e nenhuma beira....
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