"Na terra invadida, revelam os cadernos, o MST organiza vigilância semelhante à de um quartel. Os “guardas” são distribuídos em turnos. As incluem crianças com mais de 14 anos. Algo que levou a Brigada Militar a encaminhar o papelório ao Ministério Público.
Os textos orientam os invasores sobre o que deve ser dito à imprensa: “Estamos num latifúndio que não tem apoiadores!” Orienta-os também acerca das respostas que devem apor nos formulários de cadastro do Incra.
É com base nesses formulários que a autarquia do Ministério do Desenvolvimento Agrário define quem está apto a receber cestas básicas. Eis algumas das orientações dos cadernos do MST:
“[...] Não precisa se intimidar... Tem de dizer que não tem bem familiar, não tem renda porque não trabalha. Quem não tem documento, dizer que a Brigada roubou. Se tem passagem na Polícia? Não. Se já era agricultor? Sim. O que fazia há cinco anos atrás? Nada, por isso estou aqui... Tempo de acampamento? Dizer que tem mais de um ano... E assim por diante'.
Os cadernos ensinam a lidar com a polícia. Fazem menção a “pedras”, “trincheiras” e “bombas”. Anota coisas assim: 'Resistência do cenário: mais pedras, ferros nas trincheiras, alguns pontos estratégicos... cavalo apavora...”
Ou assim: “Zinco como escudo. Bombas... tem um pessoal que é preparado. Manter a linha [...]. Retorno do Pelotão 13: fazer trincheira lá atrás. Se protejam atrás, porque o pelotão que tome cuidado, atiram foguete...'
Os manuscritos revelam ainda que o MST mantém a ordem em seus acampamentos manu militari: '[...] tá roubando galinha. Quem rouba é expulso'; '[...] os rapazes foram expulsos porque roubaram da Vozinha 15 reais, não gostavam de reunião e não faziam tarefa [...]'; '[...] proposta da direção de transferir P. para outro acampamento, porque corre risco de vida. Vai ser transferido, queira ou não'.
Num dos quatro cadernos apreendidos, o grupo de invasores gaúchos faz uma apreciação do movimento conhecido como “Abril Vermelho”, que movimentou a militância do MST em todo país: 'Nível está bom. Repercussão da ocupação está boa em sete Estados. Em Pernambuco, 23 ocupações. Oposição da PM. Ação rápida. Muita arma no acampamento. Imprensa.'"
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